Texto para interpretação: concursos e vestibular da UEM

TEXTOS PARA INTERPRETAÇÃO

Texto 01
TEMPO DE VIOLÊNCIA

Confesse, você tem medo. Medo de ser a vítima de cena aí embaixo e de não saber como reagir. Mas fique frio,isso é normal. A violência urbana está mesmo assustando todo mundo. E os cientistas quebraram a cabeça para entender por que ela chegou a esse ponto.

Por Ricardo Chaves Prado

Ele surge do nada. Tem os músculos enrijecidos e uma arma na mão. Está assustado quanto você, mas a voz sai forte: “É um assalto!”. Se você ficar calmo e contornar a situação desfazendo-se de dinheiro, relógio e outras bagatelas, restaram o susto, a raiva de ter sido roubado e o medo de sofrer outra violência. Talvez sirva de consolo saber que nas duas horas que seu corpo precisará para recuperar a normalidade, onze habitantes de São Paulo estarão passando por sufoco idêntico. E nesse mesmo período alguém morrerá assassinado porque um dos dois lados pisou na bola na hora H. Se for no Rio, serão duas mortes. Enfim, se você anda com medo da onda de violência, é sinal de que está atento à realidade. Em um ano houve um salto de 11, 1% no número de homicídios em São Paulo. E em cidades menores as taxas também cresceram. A compra de armas aumentou 130% de junho a julho (um mês!) na capital paulista. Dos 3 224 revólveres e outros engenhos do gênero registrados nesse julho assaltado, quase 1000 foram para empresa de segurança privada. Os demais devem estar em gavetas, criados-mudos ou porta-luvas, aguardando a visita sorrateira e aumentando o risco de mortes acidentais.
                O pior é que essa ansiedade por proteção parece alimentar a violência, segundo os especialistas. “A pessoa que se arma para se  defender está se identificando com o agressor”, analisa a psiquiatra Patrizia Streparava, da Universidade Federal de São Paulo, na mesma linha de pensamento do filósofo Jean-Paul Sartre, para quem a violência sempre se faz passar por uma resposta à violência alheia. Afinal, violentos são os outros? Alguém nasce violento ou é o meio ambiente que o deixa o homem assim? A ciência tem se esforçado para responder a essa questão. Você vai ver aqui até onde ela conseguiu chegar.

A genética pode explicar a agressividade?

                Neurologistas, geneticistas e psicólogos trabalham duro atrás de uma explicação. Entender o comportamento humano não é fácil. E quando se trata de um mau comportamento, pior ainda. Em setembro do ano passado a Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, sediou a conferência sobre Pesquisas em Genética e Comportamento Criminoso. O encontro virou o centro de uma grande polêmica. Ativistas dos direitos humanos reclamaram que esse tipo de estudo desvia a atenção das causas sociais do problema e corre o risco de ajudar a corroborar políticas racistas. Pode ser. Mas não dá para ignorar as pesquisas. Em 1993, a análise do DNA de integrantes de uma família holandesa na qual se registravam vários casos de conduta violenta levou à conclusão de que um defeito genético era o responsável pelos acessos. Os estudos do psicólogo Herman Witkin com 4 139 recrutas do Exército da Dinamarca, em 1976, já iam pelo mesmo caminho. Witkin achou doze soldados com a formação cromossômica XYY, relativamente rara, e comparou que 41,7% deles tinham cometido crimes no passado. Entre os demais, o índice de criminalidade era de 9%. “Acredito que seja na interação entre essas tendências genéticas e as influências do ambiente que está a explicação para a agressividade”. Pondera Oswaldo Frota-Pessoa, do Departamento de Biologia da Universidade de São Paulo (USP). O diretor de Neuropsiquiatria da Universidade de Massachusestts, Craig Ferris, concorda. “O comportamento é 100% hereditário e 100% ambiental”, ironiza. Essas teses têm animado os advogados, que andam atormentando os cientistas em busca de argumentos para livrar seus clientes. Por enquanto, sem sucesso.

O que as drogas têm a ver com isso?
               
“Para fazer uma coisa dessa, o moleque estava drogado”. Este é o comentário mais comum de se ouvir após um crime bárbaro. Funciona como uma explicação sacada do bolso do colete que, de certa forma, reconforta. Mas é correto pensar assim? Não, na opinião do psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento ao Dependente (Proad), da Universidade Federal de São Paulo. “Não existe o efeito puro da droga, mas um contexto no qual seu uso é inserido”, diz Silveira. Claro que há uma reação química no cérebro, que pode até predispor à agressividade, dependendo da substância. “Mas tudo indica que, quanto mais repressora a polícia de controle, mais as drogas são associadas à violência”, alerta o médico. Uma experiência recente na cidade de Widnes, na Inglaterra, parece confirmar sua tese. Um grupo de 180 dependentes passou a receber drogas legalmente. “Comparando suas fichas criminais dos dois anos anteriores com as dos dois posteriores ao início da experiência, constatou-se uma redução de 93, 5% nas inflações”, conta o antropólogo Anthony Hernman, do Hospital Beth Israel, em Nova Yorque, que participou do projeto. Hernman acredita que a ilegalidade leva ao crime principalmente porque as questões pendentes não podem ser resolvidas na Justiça. Claro, é impossível processar um fornecedor de cocaína como se faz com outros produtos. Mas a coisa não é assim tão simples. Ironicamente, a droga mais associada à violência é o álcool, que é legal. O seu efeito desinibidor e a facilidade com que é consumido faz dele o principal vilão daquelas cenas nas quais um perde a cabeça e o outro a vida.

A culpa está nas cidades?

                A tentativa de explicar a violência tem levado muito cientista a olhar também para fora do indivíduo, para o ambiente que o rodeia, ou seja, as cidades. Ali, a conjunção de fatores aparentemente ligados à questões é de deixar tonto. Há problemas como a má distribuição de renda, o desemprego, o narcotráfico, o despreparo da polícia, a precariedade do sistema judicial e até a tensão de se viver em lugares feios, sujos e barulhentos. Só para ficar em alguns exemplos. E há também o medo. Os americanos gastam em segurança privada quase o dobro do que o governo investe na polícia. Em 1993, eram 65 bilhões de dólares contra 35 bilhões, segundo cálculo da socióloga Sophie Body-Gendrot, do Instituto de Estudos Políticos de Paris. E, de acordo com Sophie, o enclausuramento em condomínios não contribui para reduzir taxas de violência. Ao contrário. Os muros, garante a socióloga, “reforçam a suspeita de todos contra todos”, o que só piora a situação. O cientista político Paulo Sérgio Pinheiro do Núcleo de Estudos da Violência, da USP, concorda. “Nunca vi pobres e elite tão separados. É como se fosse água e óleo.” Normalmente isolados em seus próprios mundos, esses elementos, quando juntos, podem explodir. Mas é uma reação cercada de fatores complexos. E a ciência ainda tem muito trabalho pela frente para decifrar como ela realmente se dá.

Revista Superinteressante,11/96
ANÁLISE DO TEXTO

1)       Segundo a psiquiatra Patrizia Streparava e o filósofo Jean Paul Sartre:
a)       A  pessoa que se arma está agindo corretamente porque responde à violência do outro com atitude de legitima defesa;
b)       O aumento do número de armas é uma resposta justa à ansiedade por proteção e não estimula o aumento da violência;
c)       A pessoa que usa armas para se defender está se tornando muito parecida com o agressor, contribuindo para ampliar a mesma violência de que é vítima;
d)       A violência faz parte da natureza humana e pode ser resposta à necessidade de adaptação para a sobrevivência.

2)       Indique a alternativa que não pode ser deduzida do texto:
a)       as explicações genéticas sobre a violência têm animado os advogados porque poderiam justificar o ato criminoso de um cliente como uma tendência hereditária (de nascença) e não como ato consciente que merece punição;
b)       a compreensão do comportamento violento de ser procurada tanto nos fatores genéticos como nos fatores ambientais;
c)       Há também pesquisas sendo elaboradas para estudo do comportamento não agressivo;
d)       O indivíduo de formação cromossômica XYY pode ter maior predisposição à agressividade.

3)       Considere as proposições abaixo sobre a crítica que fazem os ativistas dos direitos humanos a resposta a respeito dos estudos genéticos sobre a violência:
I - Caso o estudo de características genéticas responsáveis pela violência apontasse tendências maiores em um povo ou raça, haveria o perigo de discriminação contra todo esse grupo, sem o cuidado de avaliar o comportamento real de cada indivíduo.
II – Atribuir a características ligadas ao nascimento a responsabilidade por tendência a comportamentos violentos poderia fazer com que se perdesse de vista o fato de que existem muitos outros fatores sociais responsáveis por ser violento, ou não, o comportamento.
III – Para os ativistas, o estudo da violência – do ponto de vista genético – relacionado às influências do ambiente pode auxiliar a compreensão da agressividade.

Está correto o que se afirma SOMENTE em:

a) I           b) II            c) I e II                 d) I e III               e) II e III

4)       A partir do texto é possível dizer que:
a)       as drogas induzem sempre ao comportamento violento;
b)       todas as drogas produzem no cérebro um efeito químico que predispõe o indivíduo à violência;
c)       a repressão ao uso de drogas pode intensificar o comportamento violento do usuário;
d)       o fato de o álcool não ser uma droga ilegal, e ainda assim ser o principal responsável pela violência, mostra que a liberação das drogas não seria uma solução válida.

5)       A tese central do texto é:
a)       a genética demonstra que existem fatores hereditários responsáveis pela violência;
b)       a representação ao uso de drogas pode até intensificar a violência de seus usuários;
c)        ainda há muito o que estudar sobre as causas da violência, porém a resposta deve ser procurada a partir da interação de vários fatores;
d)       as péssimas condições de vida nas cidades são um dos principais motivos para a grande incidência de comportamentos violentos.

06) Considerando as proposições abaixo:
I – ao afirmar que o comportamento é 100% hereditário e 100% ambiental, Craig Ferris quer dizer que nenhum desses fatores explica a violência;
II – a população urbana está criando grupos sociais isolados que a partir da justificativa de autodefesa têm provocado discriminação de ricos contra pobres que aumenta o ódio de um contra o outro.
III – as cidades possuem um conjunto de situações ambientais que colaboram muito para o desenvolvimento de comportamentos violentos.

De acordo com o texto, está correto o que se afirma SOMENTE em:

a) I        b)  II        c) I- II         d) I e III       e) II e III

07) O texto informa que tem havido um grande crescimento na aquisição de armas de fogo pela população para autodefesa. Exponha a sua opinião sobre este fato, apresentando pelo menos duas razões a favor ou contra.
    
        08) Qual a resposta que o texto oferece à pergunta: “Alguém nasce violento ou é o ambiente que deixa 
        o  homem assim?”
 
09) Segundo o texto e refletindo sobre nossa sociedade atual quem é o maior beneficiado com a chamada “cultura do medo”? Justifique sua resposta.
 
10) Diante de uma situação tão complexa que é a violência, em sua opinião quais serão as possíveis saídas para esse problema?
 
 
Texto 02
Estigma

Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criando o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor – uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada, especialmente em lugares públicos. Mais tarde, na Era Cristã, dois níveis de metáfora foram acrescentados ao termo: o primeiro deles referia-se a sinais corporais de graça divina que tomavam a forma de flores em erupção sobre a pele; o segundo, uma alusão médica a essa alusão religiosa, referia-se a sinais corporais de distúrbio físico. Atualmente, o termo é amplamente usado de maneira um tanto semelhante ao sentido literal original, porém é mais aplicado à própria desgraça do que à sua evidência corporal. Além disso, houve alterações nos tipos de desgraças que causam preocupação. (...) Podem-se mencionar três tipos de estigma nitidamente diferentes. Em primeiro lugar, há as abominações do corpo – as várias deformidades físicas. Em segundo, as culpas de caráter individual, percebidas como vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo essas inferidas a partir de relatos conhecidos de, por exemplo, distúrbio mental, prisão, vício, alcoolismo, homossexualismo, desemprego,
tentativas de suicídio e comportamento político radical. Finalmente, há os estigmas tribais de raça, nação e religião, que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros de uma família. Em todos esses exemplos de estigma, entretanto, inclusive aqueles que os gregos tinham em mente, encontram-se as mesmas características sociológicas: um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social quotidiana possui um traço que se pode impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus. Ele possui um estigma, uma característica diferente da que havíamos previsto. Nós e os que não se afastam negativamente das expectativas particulares em questão serão por mim chamados de normais. As atitudes que nós, normais, temos com uma pessoa com um estigma, e os atos que empreendemos em
relação a ela são bem conhecidos na medida em que são as respostas que a ação social benevolente tenta suavizar e melhorar. Por definição, é claro, acreditamos que alguém com um estigma não seja completamente humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminações, através das quais, efetivamente, e muitas vezes sem pensar, reduzimos suas chances de vida.


(Erving Goffman. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: LTC, 1988. p. 11-15.)

01. (UFPR/2005) Segundo o texto, é correto afirmar:
a) Os estigmas físicos e os ligados à personalidade atingem todos os membros de uma família.

b) As pessoas “normais” devem evitar a convivência com as estigmatizadas, para evitar a contaminação.

c) Os portadores de características estigmatizantes não têm qualidades que possibilitem sua integração social.
]
d) As três formas de estigma são transmitidas hereditariamente de uma geração a outra.

e) Embora diferentes, os três tipos de estigma levam à rejeição do indivíduo pelo grupo social.

02. (UFPR/2005) Entre os diversos conceitos de “estigma” apresentados no texto, assinale a alternativa que sintetiza o uso mais amplo que o termo adquiriu na atualidade.
a) Características pessoais usadas socialmente como critérios para a admissão de alguns indivíduos.
b) Marcas corporais ocasionadas intencional-mente para indicar características morais do portador.

c) Sinais produzidos no corpo das pessoas para restringir sua circulação em espaços públicos.
d) Marcas observadas na pele de alguns indivíduos, atribuídas ao dom divino.
e) Indícios físicos que levam ao julgamento de que certos indivíduos seriam seres imperfeitos.

03. (UFPR/2005) A partir do texto, é incorreto afirmar:
a) O conceito de estigma e o conceito de “pessoas normais” são construídos por oposição um ao outro.

b) Políticas de ação afirmativa buscam aumentar a integração social de pessoas a que se atribuem diversos tipos de estigma.

c) Um único estigma basta para obscurecer as qualidades de um indivíduo.

d) Características inerentes ao indivíduo dão origem a estigmas diversos e facilitam a aceitação dele pelos demais.

e) Obras sociais de atendimento a grupos estigmatizados não eliminam o estigma, mas procuram reduzir seus efeitos.


Texto 03
Impostura verde

Hoje em dia ninguém mais cita o filósofo Gilles Deleuze (1925-1995) em jornal – a não ser, talvez, para criticá-lo. Mesmo quem o conhece mal, porém, não deixará de reconhecer como é certeira sua caracterização do marketing como “a raça impudente de nossos senhores”. Em especial se topar com um anúncio da nova coleção de roupas Diesel.
Pessoas sensatas, em tempos normais, pensariam duas vezes antes de adquirir confecções de uma empresa que publica no Brasil anúncios inteiramente em inglês. Só que nosso tempo há muito deixou de ser normal e o Brasil, todos sabem, nunca foi sério.
Precisava carimbar a campanha com um “Global Warming Ready”, porém? Para quem não sabe, a frase quer dizer “pronto(a) para o aquecimento global”. Noutro lugar, anuncia-se que são roupas para permanecer “cool” (bacana, ou literalmente, fresco) enquanto o mundo se aquece.
As imagens utilizadas são ainda mais loquazes. Numa delas, um rapaz de camisa aberta lambuza com filtro solar a garota em vias de trepar num coqueiro. Seria só ração cotidiana de nonsense da publicidade de moda, não fosse pelo carimbo mencionado e por mostrar no fundo, à esquerda, o mar batendo no topo do que parece ser o monte Rushmore, nos EUA.
A face esculpida em pedra, com água pelo nariz, talvez seja a de Abraham Lincoln. Não aparecem na imagem as outras três do famoso monumento em Dakota do Sul: George Washington, Thomas Jefferson e Theodore Roosevelt. O quarteto de presidentes só se mostra por inteiro noutro quadro, em que um modelo sarado lê um livro com geleiras na capa, deitado na areia da mesma praia.
A mesma alusão à elevação do nível dos mares como resultado do aquecimento global surge num plágio deslavado do filme “O Dia Depois de Amanhã”. Em tela, arranha-céus de Nova York (Chicago?) com água na cintura.
Nesse álbum disparatado ainda há espaço para araras no lugar dos pombos da praça São Marcos em Veneza, vegetação equatorial ao lado da torre Eiffel e gente de biquíni ao lado de pingüins. Na Antártida, supõese. A publicidade não tem nem precisa ter compromisso com a realidade, sequer com a verossimilhança. Seu liquidificador de signos já nasceu pós-moderno. O que salta aos olhos são os sobretons frívolos para retratar uma questão de sobrevivência.
O aquecimento global virou moda, modismo. Já houve até evento fashion “carbon-neutral”, em que hedonistas compungidos voluntariam uns caraminguás para plantar árvores, não se sabe nem se quer saber onde. Peles de animais, contudo, voltaram a ser chiques. O mundinho é verde, ma non troppo. Ao final, todos montam em seus jipões 4x4 movidos a (muito) diesel e rodam superiores sobre o asfalto esburacado das metrópoles brasileiras. Os mais radicais se filiam a alguma ONG − com nome em inglês, claro. Dá vontade de incorporar um “nerd” rápido. Lembrar que Dakota do Sul fica no meio dos Estados Unidos, onde o mar nunca vai chegar (não na escala de tempo que interessa à espécie humana). O monte Rushmore, aliás, está 1.745 metros acima do nível do mar, que deve subir só meio metro nos próximos cem anos, segundo a última previsão do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática). Quem é que quer saber de informação, no entanto? O negócio agora é ser “ambiental”. Qualquer dia desses nasce a grife Biodiesel. Lula vai a-do-rar.

(Marcelo Leite. Folha de S. Paulo, 18 de março de 2007. Folha Mais, p. 9.)

Vocabulário:
impudente: que ou o que não tem pudor.
loquaz: que fala muito, falador.
nonsense: absurdo, disparate.
ma non troppo: mas nem tanto.
frívolo: superficial, inútil.
nerd: pessoa desinteressante, fora de moda; pessoa extremamente interessada em computador; pessoa com inteligência acima da média.
hedonista: pessoa dedicada ao prazer dos sentidos.
compungido: arrependido, aflito moralmente.

01. (UEM/2007) De acordo com o terceiro e o quarto parágrafos do texto,
a) as empresas se valem da questão ambiental para fins publicitários.
b) as pessoas são insensatas ao adquirirem confecções com anúncios em inglês.
c) muitos consumidores brasileiros não compreendem inglês.
d) o Brasil não trata a questão ambiental com seriedade.
e) o aquecimento global é inevitável e é inútil enfrentá-lo superficialmente.

02. (UEM/2007) Na visão do autor do texto, o “plágio” é “deslavado” (sexto parágrafo) porque
a) confronta espaços geográficos fictícios.
b) ilude o consumidor desatento.
c) distingue personagens norte-americanos.
d) imita passagens de filme conhecido.
e) alude a fatos históricos conhecidos.

03. (UEM/2007) A justificativa para o título “Impostura verde” se deve
a) à falsa preocupação ambiental por parte do mercado produtor e consumidor de marketing.
b) à inadequação entre a localização geográfica e as imagens veiculadas na mídia.
c) ao retorno das roupas confeccionadas com peles de animais.
d) ao uso inadequado das imagens naturais nas propagandas.
e) às informações distorcidas sobre o aquecimento global.

04. (UEM/2007) A expressão “raça impudente de nossos senhores” (primeiro parágrafo), empregada por Gilles Deleuze, significa que a propaganda só se importa com
a) a realidade.
b) o lucro.
c) a verossimilhança.
d) a informação.
e) a sociedade.

Texto 04

UM ARRISCADO ESPORTE NACIONAL

Os leigos sempre se medicaram por conta própria, já que de médico e louco todos temos um pouco, mas esse problema jamais adquiriu contornos tão preocupantes no Brasil como atualmente. Qualquer farmácia conta hoje com um arsenal de armas de guerra para combater doenças de fazer inveja à própria indústria de material bélico nacional. Cerca de 40% das vendas realizadas pelas farmácias nas metrópoles brasileiras destinam-se a pessoas que se automedicam. A indústria farmacêutica de menor porte e importância retira 80% de seu faturamento da venda “livre” de seus produtos, isto é, das vendas realizadas sem receita médica.
Diante desse quadro, o médico tem o dever de alertar a população para os perigos ocultos em cada remédio, sem que, necessariamente, faça junto com essas advertências uma sugestão para que os entusiastas da automedicação passem a gastar mais com consultas médicas. Acredito que a maioria das pessoas se automedica por sugestão de amigos, leitura, fascinação pelo mundo maravilhoso das drogas “novas” ou simplesmente para tentar manter a juventude. Qualquer que seja a causa, os resultados podem ser danosos.
É comum, por exemplo, que um simples resfriado ou uma gripe banal leve um brasileiro a ingerir doses insuficientes ou inadequadas de antibióticos fortíssimos, reservados para infecções graves e com indicação precisa. Quem age assim está ensinando bactérias a se tornarem resistentes a antibióticos. Um dia, quando realmente precisar de remédio, este não funcionará. E quem não conhece aquele tipo de gripado que chega a uma farmácia e pede ao rapaz do balcão que lhe aplique uma “bomba” na veia, para cortar a gripe pela raiz? Com isso, poderá receber na corrente sanguínea soluções de glicose, cálcio, vitamina C, produtos aromáticos – tudo sem saber dos riscos que corre pela entrada súbita destes produtos na sua circulação.
Fonte: Dr. Geraldo Medeiros. Veja, 18 dez. 1985.

1. Analise as seguintes asserções:
I. O título não expressa o tema do texto.
II. O título, além de expressar o tema tratado, é sugestivo, atraente.
III. Levando em conta as características predominantes, o texto lido se identifica como artigo de opinião.
IV. Considerando que o texto foi publicado em uma revista, ele pertence ao grupo das reportagens.
A) II e IV são verdadeiras.
B) I e IV são verdadeiras.
C) I e III são verdadeiras.
D) II e III são verdadeiras.
E) Apenas I é verdadeira.

2. Indique o que for FALSO sobre o texto de Geraldo Medeiros.
A) Apesar de tratar de um tema sério, o texto apresenta um certo tom de humor.
B) Os dados estatísticos apresentados no primeiro parágrafo são argumentos convincentes que o autor utiliza para defesa de seu ponto de vista.
C) No segundo parágrafo, o uso do verbo acreditar, para introduzir as causas da automedicação, anulou a força argumentativa do enunciado, o que acabou desqualificando todo o texto.
D) O fato de o autor assinar seu nome precedido do título de doutor (Dr.) é uma forma de dar credibilidade tanto à posição defendida como aos argumentos apresentados.
E) A automedicação é o tema central do texto.

3. Analise as afirmações sobre os elementos que estabelecem relações entre os segmentos do texto de Medeiros.

Marque a alternativa FALSA.

A) Diante desse quadro (2º parág.) equivale a “entretanto”, porque ambos estabelecem relação de conclusão.
B) Já que (1º parág.) introduz uma justificativa para a afirmação contida na frase anterior.
C) Sem que (2º parág.) exclui um fato que poderia constituir um argumento contrário à afirmação anterior.
D) Ou (2º parág.) marca relação de alternância (e/ou).
E) Com isso (3º parág.) retoma a palavra bomba, evitando sua repetição.

4. Ordene coerentemente o conjunto de enunciados a seguir, de forma a recompor o texto Fumo passivo também mata, publicado na Gazeta do Povo (17/09/09).

I. Nem os animais de estimação estão livres dos males causados pelo vício de seus donos: a Faculdade de Medicina Veterinária da USP pesquisou a relação entre tabagismo e doenças respiratórias de cães e gatos e concluiu que eles sofrem das mesmas doenças decorrentes do fumo passivo – como câncer, bronquite, asma e crise alérgica – que acometem seres humanos.

II. A faixa etária mais atingida, tanto em homens quanto em mulheres, é de 65 anos ou mais.

III. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam a exposição à fumaça do cigarro alheio como a terceira causa de morte evitável no mundo, atrás apenas do próprio tabagismo e do alcoolismo.

IV. A pesquisa do Inca revela que 2,9% das mortes cérebro-vasculares podem ser atribuídas à exposição passiva à fumaça do tabaco.

V. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), sete pessoas morrem por dia no Brasil por estarem expostas ao fumo passivo.

VI. Nas doenças isquêmicas, a taxa é de 2,5%. O fumo passivo é apontado como causa de 0,7% das mortes por câncer de pulmão. Entre os fumantes passivos, as mulheres morrem até três vezes mais que os homens.
A) V, I, IV, II, III, VI
B) III, V, IV, VI, II, I
C) V, III, I, VI, IV, II
D) III, I, V, VI, IV, II
E) N. D. A.